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Uma morte a cada 45 segundos

Descaso

04/03/2021 às 15h51 Atualizada em 04/03/2021 às 21h03
Por: Camila Nery
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Foto: reprodução
Foto: reprodução

Ontem, dia 03 de março de 2021, o Brasil registrou a cruel marca de 1.910 mortes pelo novo coronavírus em apenas 24 horas, o maior número desde o início da pandemia (dados do Ministério da Saúde). É como se 10 aviões caíssem por dia no Brasil matando todos os passageiros. Se esses aviões caíssem, de fato, veríamos choros, comoções, desesperos, seríamos capazes de sentir o cheiro dos corpos carbonizados e ficaríamos paralisados diante da TV.

Por que não sentimos a mesma tristeza diante de tantas mortes pelo Coronavírus? Por que ignoramos as recomendações dos médicos, dos cientistas e nos agarramos a conselhos de políticos genocidas que não possuem empatia com a desgraça da população? Por que desejamos reabertura das escolas e do comércio e não protestamos nas ruas com a mesma paixão pela vacina e insumos nos hospitais?

Por que nos revoltamos com o fechamento de casas de shows e imposições de lockdown e não empenhamos nossa energia para lutar ao lado dos profissionais de saúde que sofreram cortes em seus salários em plena pandemia? Que país é esse? Que pessoas são essas?

O Piauí registrou 799 casos confirmados, em apenas nas 24 horas do dia 03 de março, e 15 mortes pela Covid-19, dos 799 casos confirmados da doença, 452 são mulheres e 347 são homens, com idades que variam de 01 a 103 anos, segundo dados divulgados pela Secretaria de Estado da Saúde.

O Brasil é o segundo país com maior número de óbitos por Covid-19 no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, e o terceiro em casos, abaixo dos EUA e da Índia. Em nota publicada na véspera, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) alertou que 19 unidades da federação apresentavam taxas de ocupação de leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) acima de 80%.

Mesmo diante de números tão alarmante, o Presidente da República, Jair Bolsonaro voltou a atacar as recomendações da Organização Mundial da Saúde, em meio ao pior momento da crise chamou o fechamento de atividades não essenciais de “frescura” e “mimimi” - as declarações foram feitas hoje durante cerimônia de assinatura de inauguração de um trecho da ferrovia Norte-Sul em São Simão (GO). “Frescura” e “mimimi” também são as 1.910 pessoas que perdemos para o vírus?

Em conversa com apoiadores em Uberlândia nesta quinta-feira, 04 de março, o presidente fez críticas a comentários sobre a compra de vacinas contra Covid-19 pelo governo federal, tendo afirmado: "Tem idiota que a gente vê nas redes sociais, na imprensa, [dizendo] 'vai comprar vacina'. Só se for na casa da tua mãe. Não tem [vacina] para vender no mundo". Porém, é importante destacar que o presidente resistiu a comprar vacinas contra o Covid-19 desde o início, tendo vetado a aquisição da Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan; rejeitou uma oferta da Pfizer feita em setembro do ano passado e defendeu o veto que fez ao trecho de uma medida provisória proposta e aprovada pelo Congresso Nacional que autorizava estados e municípios a adotar medidas de imunização em caso de omissão do Ministério da Saúde.

A vacinação, sopro de esperança, começou no Brasil em janeiro, após atrasos na entrega de doses. No mês de fevereiro, algumas capitais suspenderam a imunização por falta de vacina, até quarta-feira, dia 03 de março, apenas 3,47% da população do país havia tomado a primeira dose da vacina. A segunda dose foi aplicada em apenas 1,09% da população.

Nessa disputa de ego, nesse show de horrores, sofremos todos. Idosos, adultos, jovens, crianças, desempregados, trabalhadores, comerciantes, empresários, autônomos... Todos sofremos, todos morremos diante de tanta inércia e hipocrisia.

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