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O ano em que o racismo e o machismo não conseguiram se ocultar

Racismo e Machismo em 2020

Por: Camila Nery
24/12/2020 às 15h50 Atualizada em 24/12/2020 às 15h59
O ano em que o racismo e o machismo não conseguiram se ocultar
Foto: reprodução

O ano de 2020 foi, sem sombra de dúvidas, um dos anos mais difíceis de nossas vidas. Uma onda gigante seguida de outra e de outra e de outra nos desequilibrava desnudando nossas mazelas pessoais e sociais.

Práticas de racismos restaram escancaradas e levaram multidões às ruas em vários lugares do mundo com os punhos cerrados e os corações gritando “VIDAS NEGRAS IMPORTAM”. Sentimos a dor de sermos estrangulados pela cor da pele e condição social.

No Brasil sofremos com várias mortes prematuras de balas não tão perdidas assim que sempre davam um jeito de encontrar vidas jovens e negras, mais especificamente crianças negras para total desespero de todos com um mínimo de humanidade. Somente no Rio de Janeiro 13 crianças e adolescentes foram vítimas de “bala perdida” no ano de 2020 segundo a plataforma Fogo Cruzada.

Sem conseguir tomar fôlego, fomos atropelados com cenas gravadas em aparelhos celulares e vimos mais uma vida negra ser retirada à força no Carrefour, para logo em seguida levarmos um golpe fatal ao ouvir do vice-presidente da República afirmas: “No Brasil, não existe racismo. Isso é uma coisa que querem importar aqui para o Brasil. Isso não existe aqui.”

Não bastassem as cenas de racismo que vimos em 2020, tivemos que vivenciar as cenas de violência contra a mulher. Os índices de violência doméstica saltaram, colocando-se a culpa na pandemia, no isolamento, na ausência de emprego, na omissão de uma política pública, mas jamais no homem agressor-criminoso. Mulheres, mães, meninas, avós foram agredidas, estupradas e mortas e a conduta do agressor normalizada e justificada para escárnio dos que conseguem enxergar a brutalidade da opressão. O caso Mariana Ferrer não nos deixou esquecer o papel que a sociedade machista e patriarcal deseja entregar às mulheres.

Na televisão outro caso ganhou repercussão envolvendo atrizes e diretores globais. E o que aconteceu? Mais do mesmo. Após anos de silêncio, quando a mulher ousa romper a barreira do medo de julgamento e expõe a violência da qual foi vítima, o agressor desdém e culpa o comportamento da mulher. Hoje o número de mulheres que denunciaram o mesmo diretor cresceu para 12. Quem sabe agora esse coro consiga ser ouvido.

Em um flagra da sociedade midiática vimos mais uma conduta criminosa de um parlamentar que apalpou o seio de uma outra deputada em pleno plenário do legislativo paulista, apenas por diversão, apenas por prazer, apenas por demonstração de poder e certeza da impunidade.

              O ano aproxima-se do seu encerramento e com ele desejamos comemorar o fim de uma era de silêncio e impunidade. Ao passo que morremos um pouco por dia ao sermos espectadores de tantas barbaridades, somos igualmente inflados de esperança no porvir, crendo que os gritos, punhos cerrados, denúncias nas mídias, enfrentamento dos algozes, serão capazes de mudar essa cultura de opressão e descaso aos direitos dos mais vulneráveis.

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