Já imaginou, sair de casa para um evento na sua universidade, um local em que você espera estar segura e protegida e acabar sendo agredida, estuprada e morta? Foi o que ocorreu no dia 28 de Janeiro de 2023 com a jovem promissora Janaína Bezerra da Silva.
Janaína era uma estudante de 22 anos do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Piauí, escrevia poemas e sonhava em publicar um livro. Pelo menos esses são alguns dos sonhos de Janaína que foram compartilhados por seus familiares e amigos que hoje choram a sua perda.
O fatídico ocorrido escancara a verdade e a realidade das Universidades, Institutos e Faculdades espalhadas pelo Brasil e no mundo. Nós mulheres somos vítimas diariamente dentro de instituições que deveriam garantir nossa segurança.
A exemplo, a USP, sendo a maior instituição pública do país, tem sido palco de diversas denúncias. Em setembro de 2014, uma estudante da FFLCH denunciou uma tentativa de estupro, depois de receber bilhetes anônimos e ser violentamente abordada por um indivíduo desconhecido no estacionamento. Ela escapou somente ao tocar a buzina do carro com insistência.
Segundo pesquisa “Violência contra a mulher no ambiente universitário”, divulgada pelo Instituto Avon e o Data Popular, que realizou um levantamento com universitários/as de 5 regiões do país, sendo 60% mulheres e 40% homens. Entre as entrevistadas, 67% já sofreram algum tipo de violência (sexual, psicológica, moral ou física) no ambiente universitário. Destas, 56% já sofreram assédio sexual e 28% já sofreram violência sexual (estupro, tentativa de abuso enquanto sob efeito de álcool, ser tocada sem consentimento, ser forçada a beijar veterano).
O interessante dessa pesquisa é que dos entrevistados homens 27% dos entrevistados homens acreditam que abusar de uma mulher que está alcoolizada não é violência, enquanto 35% não enxergam a violência em coagir uma mulher a participar de atividades degradantes. Além disso, 31% não enxergam problema em compartilhar imagens ou vídeos das colegas sem permissão. Para esses universitários, essas atitudes são consideradas resultados normais do comportamento da mulher ou apenas brincadeiras sem a intenção de prejudicar ou intimidar.
Posturas como essas, tanto fora quanto dentro do ambiente acadêmico são reflexo da cultura machista que prevalece na sociedade atual. Embora tenhamos chegado a posições de liderança em grandes empresas e cargos políticos, e em posição de destaque na Academia, ainda lidamos com estereótipos que minimizam nossa presença nos espaços de poder. Apesar de sermos a maioria na universidade, ainda carecemos de políticas específicas de segurança, saúde e permanência para as mulheres.
Frente ao ocorrido, os estudantes da Universidade Federal do Piauí se movimentam e ocupam a universidade questionando a administração sobre a necessidade urgente em combater a violência contra as mulheres nos espaços acadêmicos e tornar a universidade um local mais seguro.
Porém, para Janaína nenhuma medida implementada agora fará diferença, resta apenas saber se a justiça será feita, e o culpado será julgado e condenado por seus crimes. Que Janaína não seja mais um número, que ela seja justiça.
“Anseio o que o futuro tem pra mim, mais ainda o que penso ter no presente"
- Janaína da Silva Bezerra