Gestamos um novo perfil. Nasce um novo olhar sobre os fatos no mundo. E a Internacionalista retorna com fortes emoções, não por acaso.
Foram nove meses recolhendo o ser antigo para dar à luz a esse novo formato. E o retorno é selado por acontecimentos que marcarão profundamente a humanidade.
O porquê do título explicaremos: No último Sete de Setembro, o Brasil completou 200 anos do seu Grito do Ipiranga, sua independência, até se tornar esse Estado soberano.
A história você já sabe, não precisamos reinventar a roda. Não é necessário reproduzir os livros.
A coluna se propõe a convidá-los para refletir, juntos, sobre o cenário internacional em nossas vidas. O que temos a ver com a independência do Brasil? A quem importaria o falecimento da Rainha da Inglaterra?
Pois bem, quem viveu os anos 1990 com idade suficiente para lembrar dos fatos, com certeza irá recordar do filme de Isaac Asimov (Eu, robô), estrelado por Robin Williams e dirigido por Chris Columbus: O homem bicentenário.
Ouvir a palavra “bicentenário”, imediatamente, remeteu-me a esse filme. De início, achei que poderia estar forçando a barra ao perquirir um ponto de intersecção, encontrar o “conjunto União” entre o menino Brasil e Andrew Martin, além do adjetivo que os une. E, não mais que de repente, no meio do caminho haveria, também, uma rainha quase centenária.
Espero que, ao apresentar minhas razões adiante, você, livre para concordar ou não, possa acompanhar as elucubrações desta colunista.
Pois bem. Vejo que poderíamos aprender com Andrew Martin, nosso robô NDR, sobre a importância de saber quem se é. Andrew, apesar de robô, sabia ser. Sabia de sua singularidade. Não era como os demais. E vencendo toda a resistência de uma sociedade contumaz à originalidade, Andrew forjou sua existência, ao longo de dois séculos, nos brios de sentimentos tão humanos que os próprios humanos olvidavam.
Para viver a sua história, enfrentou a dificuldade da aquiescência de suas peculiaridades. Venceu, ao fim, conquistando sua independência.
Se tudo isso não tem qualquer semelhança com essas terras tupiniquins, acho que estou bebendo café demais.
Não foi o Brasil a lutar pelo reconhecimento de suas particularidades que o fariam um Estado independente? Sua economia próspera, com recursos naturais abundantes, sua multiculturalidade o fazem um país, não só tropical, mas único. E há duzentos anos, ouvimos um grito. O grito que calaria nossos exploradores. Um grito que ensurdeceria a sociedade internacional de outrora.
E dentro dessa história, caberia mais uma personagem, que silenciosamente deixa, não só seus súditos sem chão, mas o mundo inteiro de joelhos por sua grandeza.
Elizabeth parte, assim, aos 96 anos, dos quais 70 foram de reinado (O Rei Sol reinou por 72!). Mas não foi só mais um reinado longo entre causos de coroa. Ela viu, de Churchill à Liz, 15 Ministros passarem pelas cadeiras do parlamento do Reino Unido.
E sua nobreza não estava só no sangue. Mostrou-se nobre entre tantos acontecimentos e conflitos separatistas, até o Brexit. Mesmo para toda sua sapiência, manter unido um reino tão extenso, parecia uma missão quase impossível. Enquanto isso, na casa ao lado, o Brasil saía de uma ditadura para surfar sua terceira onda de democracia, em 1988 (Huntington).
E agora não são só os novos súditos de Charles III que vão encarar incertezas: 2022 ainda trará, em poucos dias, eleições presidenciais no Brasil, marcadas por um cenário político extremamente acirrado.
Mas a verdade é que, Elizabeth deixa, além de seu trono, uma lição imortal: quando a vida parecer difícil, os corajosos não se deitam e aceitam a derrota; em vez disso, estão ainda mais determinados a lutar por um futuro melhor. Pois a história não foi feita por aqueles que não fizeram nada.
Imortal, assim como seu corpo parecia-nos (muitas vezes, motivo de anedotas), Andrew (nosso robô-humano) também parecia ser - e podia ser. E ambos se tornaram aquilo que quiseram ser: protagonistas de suas vidas, exemplos para seus iguais e diferentes de seus pares. Um na vida real, o outro na arte, ambos lutaram em suas batalhas, combateram no fronte, vestiram-se de coragem.
Não muito diferente da história brasileira, também marcada por grandes desafios e superações, o que nos parece diferir, e aqui é onde a matemática mostra o “conjunto diferença”, onde A não está contido em B, é que o Brasil dá ares de não aprender a lição, mesmo atingindo a nota necessária para a aprovação.
O Brasil nos parece ser o aluno que apenas decora a matéria a curto prazo. Não compreende o ensinamento. Recorda apenas da superficialidade. E assim, na história construída em 200 anos, o Brasil se apresenta como um candidato à repetência.
Olhemos para trás para seguirmos em frente. A inércia não pode ser a força que nos move. De tantos exemplos no mundo e nas telas do cinema, não sobram linhas para descrever o quão urgente a independência precisa ser real!
Seja de preconceitos velados, seja da covardia da acomodação, precisamos nos livrar das amarras invisíveis que nos prende. Não sejamos só mais um NDR! Sejamos Andrew! Sejamos Elizabeth, quer seja a primeira, a segunda ou até a próxima, o que importa é que SEJAMOS, VIVAMOS, não apenas existamos, como Wilde queria dizer.
(artigo de opinião)