A pandemia trouxe maiores dificuldades, agravamento e aumento dos crimes e em consequência aumento da demanda para os profissionais para a resolução dos conflitos.
Diante desse quadro necessário se faz aprender novas estratégias de atendimento, gestão e resolução dos conflitos envolvendo crianças e adolescentes, pois envolvem famílias, emoções afloradas envoltas e histórias difíceis.
Cristina Llaguno concedeu uma entrevista ao Colunista...
Pergunta: Cristina, há quanto tempo você lida com questões envolvendo a família, criança e adolescente?
R: Me formei advogada a 41 anos, pela Universidade de Buenos Aires, fiz muitas formações, incluindo além do Direito e que me proporcionaram trabalhar com desenvolvimento pessoal, que é o nome da empresa que hoje desenvolvo todo meu trabalho, Reconciliar – Centro de Desenvolvimento Pessoal, que está presente em 5 países, Brasil, Argentina, Chile, Paraguai e Estados Unidos.
Estudei várias áreas da psicologia e terapias para desenvolvimento pessoal, como respiração holotrópica na Grof Transpessoal Training USA, em 1990; sou terapeuta formada e participei de treinamentos de hipnose Ericksoniana, Autoajuda, Psicológica, EFT - Técnica de Liberação Emocional que consiste em um tratamento alternativo para dores físicas e angústias emocionais e Terapia Estratégica Breve.
Em 2002 iniciei meu trabalho como Consteladora Familiar Sistêmica e tive minha certificação por Bert Hellinger e Sophie em 2008, me tornando docente a convite na Hellinger Schule em 2018 até 2020.
Nesta jornada de aprendizado e formações, iniciei muito cedo acompanhando famílias, pais e mães, crianças e adolescentes, inicialmente em ações judiciais, em atendimento também multiportas na Argentina, em atendimentos particulares como advogada e posteriormente como terapeuta, em empresas, como docente em universidade, como consultora judicial, em programas sociais e de educação em desenvolvimento pessoal, entre outros tantos trabalhos realizados.
Pergunta: Como você atendia antes e o que você percebeu que precisava mudar no atendimento?
R: Comecei este trabalho em 2002 quando conheci Bert Hellinger, estudei Direito, que é uma disciplina dura, onde se ensina a aniquilar o outro e a vencê-lo, e sofria quando exercia minha profissão, a advocacia, porque não gostava de brigar com os outros. Então quando conheci a filosofia para a vida de Bert Hellinger, pensei, vou precisar disso para exercer o Direito com o coração. Porque o Direito sem coração não há Justiça! Então depois de 20 anos aplicando e ensinando essa filosofia para muitas pessoas, como advogados, juízes, promotores de justiça, mediadores, assistentes sociais, psicólogos e terapeutas, entre outros serventuários da justiça, e estou muito feliz com o resultado.
Inicialmente eu chamava esse trabalho de Filosofia Jurídico Sistêmica, porque era um mix entre uma parte da psicologia e o Direito. Posteriormente o professor Bert me convidou a dar aulas e fazer parte do seu staff de professores e eu preparo os módulos para treinar, os advogados, juízes, promotores no Brasil, onde eu trabalhei por três anos para faculdade dando aulas e treinando profissionais.
Então, antes da pandemia já havia iniciado um pequeno trabalho, que se interrompeu, junto a universidade no México, que volta a agora e pode voltar, estou muito feliz, porque vou poder voltar ao Brasil e outros lugares para realizar este trabalho que agora chamo de Resolução Sistêmica de Conflitos, porque neste trabalho não está só trabalho do professor Bert Hellinger, mas vários autores que são sistêmicos e algumas correntes que a mim interessa muito aplicar e levar ao conhecimento dos advogados, juízes, promotores, entre outros que trabalhem na área jurídica – com Direito, e com desenvolvimento pessoal e humano.
Por exemplo existe um assunto que me facina, se chama Triângulo Dramático. Neste triângulo existem três rols: o de vítima, resgatador e perseguidor. Se nós começamos a pensar como crianças, que sempre somos vítimas de nossos pais, sem querer eles fazem coisas com que as crianças se sintam sozinhos, traídos, com vergonha, abandonados, etc. Então se eu cresço e me sinto atraído por estes rols e não mudo, aplico isso em todas as relações que eu tenho. Cresço tenho um(a) parceiro(a) e resgato a ele(a) ou ela(e) me resgata e esta relação sempre vai terminar mal, por isso eu gosto muito de ensinar este tema do triângulo.
No meu quarto livro que se chama En Que Caja Vives? (2021, Editora Urano), que em breve estará traduzido ao português, falo um pouco sobre este assunto. Ele tem servido muito aos profissionais do Direito para perceber em que lugar está o seu cliente, ou em que lugar se encontra o seu advogado, que muitas vezes pode se sentir como pai ou mãe de seu cliente, porque acredita que ele é uma criança que não sabe nada e precisa ser levado pela mão, quando isso não me parece verdade e há uma outra forma de ser advogado e isso é o que proponho quando ensino sobre este assunto.
O tema é, que quando há um conflito é necessário ter uma nova forma de resolução para um conflito, ao longo dos anos fui desenvolvendo e aplicando a mim também estas práticas que hoje trago as formações, palestras e vivencias sobre Resolução Sistêmica de Conflitos nas mais diversas áreas, sendo elas família, criança e adolescente, na área penal, ambiental, sucessões, ética médica, empresarial e trabalhista.
Pergunta: Quais os principais desafios no atendimento às crianças e adolescentes em conflito ou em risco neste momento em que vivemos a pós Pandemia?
R: As crianças e adolescentes se desenvolvem emocionalmente nos locais em que convivem fazendo delas seres reativos e não ativos. A falta de conhecimento das emoções e a influência do local onde se desenvolvem, implica a falta de compreensão e entendimento em muitas áreas da vida, causando ruídos na forma em que se expressa e comunica. Este aspecto, da ausência de uma educação assistida para as emoções pode levar crianças, jovens e adultos dependentes de um sistema e se veem sem saída. Percebemos com isso o aumento, por exemplo, da delinquência, do aumento no consumo de drogas, na evasão escolar, o que pode prejudicar jovens e as gerações futuras.
Com o tempo crianças educadas em ambientes tóxicos, com pais que os submetem a violência, abuso doméstico, ou mesmo crianças e adolescentes que vivem em abrigos e casa lares, já existem estudos que comprovam, que essas crianças poderão ser diagnosticadas com enfermidades graves, que são irreversíveis, quando se tornarem adultos.
A situação atual mundial pôs pandemia, requer mecanismos de ação em que as famílias se sintam vistas e reconhecidas, por quê? Famílias são o pilar da nossa sociedade.
Aprender a manejar as próprias emoções pode proporcionar de maneira estruturada meios para que as famílias se sintam tão fortalecidas em seus vínculos e desenvolvam melhores habilidades sociais. Famílias são o pilar da nossa sociedade.
Tomar as medidas agora beneficia o futuro e resolve o presente!
Pergunta: O que você diria aos profissionais que lidam com os conflitos envolvendo as crianças e adolescentes no Direito, Educação, na Família e na Comunidade?
R: Agora aqui tem algo que devemos levar em consideração que é muito importante. Todas as pessoas do mundo querem somente três coisas. Elas querem ser vistas, reconhecidas e amadas.
E respondo com uma pergunta: Quais são as ações que se requerem para que todas as famílias de níveis econômicos distintos sejam fortes, se sustentem por si mesmas, e seus filhos sejam futuros empreendedores, trabalhadores ou profissionais, que participem do crescimento do país? Que sejam pais e deem continuidade a família e a sociedade?
Viajo pela América e busco passar meus conhecimentos a todos com muito amor e respeito á cultura de cada lugar. Quero estar em Teresina no mês de agosto sem seminário de como acolher e atender às crianças e adolescentes, seus familiares.
Pergunta: O que os profissionais podem esperar do seu curso?
R: Este curso foi desenvolvido para que os profissionais de todas as áreas e interessados que venham participar tenham todas as condições para aprender e compreender técnicas que auxiliem no desenvolvimento pessoal com atendimentos e acompanhamento em questões que envolvam famílias, crianças e adolescentes em conflito.
As inscrições estão disponíveis no site: https://oabpi.org.br/novaesa/cursos/aula-aberta-novas-estrategias-para-acolhimento-e-atendimento-a-crianca-e-adolescente/